quinta-feira, 1 de janeiro de 2015


RDA: UM NOVO MODELO PARA A CATALOGAÇÃO

Suzana Rodrigues (Biblioteconomia, Universidade Estadual de Londrina),

Palavras-chave: Representação descritiva. Catalogação. RDA.

Resumo

Apresenta um estudo comparativo entre os Códigos de Catalogação Anglo-American Cataloging Rules (AACR-2) e Resource Description and Access (RDA). Propõe-se uma pesquisa exploratória de abordagem qualitativa através da análise documental das regras do capítulo 1 da seção 1 do RDA e das regras do capítulo 1 do AACR-2. Traz um retrospecto da história da catalogação, desde os primórdios até a contemporaneidade. Trouxe à luz da pesquisa as similaridades estruturais que há entre os códigos AACR2 e RDA. Verificou-se que o capítulo 1 da seção 1 do RDA resgatou todas as regras de descrição geral do material que estão presentes no capítulo 1 do AACR-2. O presente trabalho apresenta os resultados do trabalho de conclusão de curso acerca do modelo Functional Requirements for Bibliographic Records (FRBR) e criação do código RDA com relação ao AACR-2R.

Introdução

        A catalogação é uma área da biblioteconomia que concentra todas as informações compostas em um documento. A catalogação utiliza-se de códigos que determinam as regras de descrição bibliográficas com padrões estabelecidos, visando a utilização por profissionais na realização de suas atividades. Tais documentos podem estar presentes em diversos formatos e suportes informacionais.
A catalogação proporciona maior interação e facilidade de busca de um determinado item pela sua descrição bibliográfica, facilitando a descrição dos materiais e a sua recuperação.
Com a evolução da tecnologia e o aumento dos documentos em ambientes digitais e analógicos, o processo de tratamento das informações ficaram mais complexos, visto que há uma grande produção de informações para serem disseminadas e registradas tanto em ambientes digitais e convencionais.
Com a realização da Conferência de Paris, em 1961, ocorreram várias modificações nos códigos até então criados. Para padronizar as normas de catalogação, trabalhando em conjunto, a American Library Association (ALA), a Canadian Library Association e a Library Association (Inglaterra) criaram, em 1967, um código de catalogação, conhecido como AACR, para descrever os materiais informacionais.
O presente estudo visa comparar as regras constantes nos dois códigos de catalogação AACR-2R e RDA. Especificamente nas regras do capítulo 1 do AACR-2 com as seções do capítulo 1 da seção 1 do RDA, buscando elencar as semelhanças e diferenças encontradas nas regras dos dois códigos, através de uma pesquisa exploratória com análise documental.

Revisão de Literatura

          A catalogação é conhecida desde os períodos remotos até os dias de hoje, contudo, sempre houve uma evolução no seu meio de informação para satisfazer as necessidades encontradas pelos profissionais bibliotecários de década em década até os novos meios de automatização que surgiram e estão surgindo no mundo digital.
Historicamente, a humanidade sempre desenvolveu normas e padrões para orientar a catalogação de materiais de informação, nos tempos mais atuais o AACR é amplamente utilizados por bibliotecas e centros de informação.
Sob a responsabilidade de três associações: a Library Association, a Canadian Library Association e a Library of Congress, o AACR foi lançado em 1967 em sua primeira versão.
O AACR foi amplamente distribuído, após a sua tradução para outros idiomas. E o seu objetivo é “atender ás necessidades das bibliotecas de pesquisa em geral” (BARBOSA, 1978, p. 48).
A aplicação desse código dirige-se a todas as atividades biblioteconômicas, bibliográficas e livrescas, ou seja, fichas catalográficas, bibliografias, citações, listagem de livros e outros materiais para qualquer intuito.
Para a revisão do código foi realizado um encontro em Copenhague. Uma Comissão Executiva Conjunta se reuniu para a revisão do Código de Catalogação Anglo Americano pelo Joint Steering Committee for the Revision of the Anglo American Cataloguing Rules – JSCAACR (ROSETTO, 2010).
Em 1975 ocorreu uma reunião com a Comissão de Catalogação da International Federation of Library Associations and Institutions (IFLA), propondo uma revisão para o AACR, resultando em 1978, na 2º edição do código de catalogação, conhecido por AACR-2. Com a criação desse novo código foi proposto também a criação do General Internacional Standard Bibliographic Description ISBD(G) (MONTEIRO, 2003).
A edição brasileira foi publicada após vários contatos, a Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários (FEBAB) com a American Library Association, Library Association e Canadian Library Association. Essas instituições assinaram um acordo em 1980, que autorizava a Federação na publicação, dividida em dois volumes: volume 1, em 1983 e o volume 2, em 1985.
O AACR-2 é o código mais utilizado pelas escolas de biblioteconomia e bibliotecários até os dias de hoje, contendo a nova forma de descrição bibliográfica, numa escala internacional. Esse código está dividido em duas partes, a parte I que se refere a Descrição e a parte II sobre Pontos de Acesso, Títulos Uniformes, Remissivas. Atualmente, o AACR-2 está estruturado pelas oito áreas de descrição e pontuação utilizadas pelo ISBD.
O primeiro projeto do AACR-3, sendo apenas da Parte 1 sobre Descrição foi disponibilizado para comentários em dezembro de 2004. O objetivo é fazer uma mudança radical para o conteúdo, estrutura e estilo das regras. Para a preparação do AACR-3 foi realizado apenas uma revisão do código até hoje utilizado, o AACR-2 (KIORGAARD, 2006).
Com o avanço tecnológico e das necessidades de se catalogar e descrever novos formatos de informação em ambientes digitais, houve necessidade de criar um novo código de catalogação. Ao invés de atualizarem o código AACR-2 para AACR-3, tendo como base para a criação do novo código o modelo FRBR. A seguir discorre-se sobre histórico desse novo código e suas principais atribuições.
A história do RDA tem início quando a JSC, em 2001, em suas reuniões são discutidas as propostas de mudanças na percepção de que o FRBR pode trazer de benefícios para o código AACR-2.
Os estudos relacionados ao RDA ainda estão em andamento, primeiramente o RDA será disponibilizado on-line, como um banco de dados incorporando as características e funcionalidades do acesso on-line: personalização e fácil atualização. E logo em seguida, versão impressa e CD-ROM (ASSUMPÇÃO, 2009).
Este trabalho tem como objetivo apresentar mostrar através de uma pesquisa exploratória comparativa, as semelhanças ou divergências encontradas a partir da análise do conteúdo do capítulo 1 (Diretrizes Gerais para Registro de Atributos de Manifestação e Item) da seção 1 (Registro de Atributos de Manifestação e Item) do RDA com o conteúdo dos capítulos 1 (Regras Gerais de Descrição) do AACR-2. Buscou-se mostrar também a organização das áreas de ambos os códigos.

Resultados e Discussão

A seção 1 (Capítulo 1 - General Guidelines On Recording Attributes of Manifestations and Items) apresenta as regras gerais para registro de atributos de manifestação e item, portanto é o que mais se aproxima do AACR-2, que traz as regras de descrição do material bibliográfico propriamente dito. Já obra e expressão ficam mais no âmbito intelectual.
No embasamento teórico, foram apresentados nesta pesquisa: a história da catalogação, desde os primórdios até a criação dos códigos de catalogação de maior relevância; de Cutter ao código de catalogação RDA; o modelo conceitual FRBR; e definições, objetivos e funções de catálogo e catalogação definidos por alguns autores.     
O RDA é o novo código de catalogação criado pelo modelo FRBR para substituir o AACR-2. Criado em 2008, e publicado em 2010, foi analisado por bibliotecas internacionais. O RDA é o novo padrão para descrição de recursos e acesso projetado para o mundo digital.
A comparação teve como objetivo analisar a descrição de cada seção e subseção na sequência que aparecem no RDA. Segundo a realização da comparação aqui proposta, observou-se muitas semelhanças e poucas diferenças entre as seções e subseções comparadas (capítulos 1 da seção 1 do RDA com os capítulos 1 do AACR-2).
As semelhanças encontradas entre os códigos referem-se ao resgate das regras gerais de descrição que compõem o código de catalogação AACR-2, não apenas presentes nos capítulo 1, mas presentes também em outros capítulos do código. Ao contrário do AACR-2, que está dividido em capítulos para cada tipo de material bibliográfico, o RDA apresenta as regras para todos os tipos de materiais.
E também foram observados que os títulos das seções e subseções presentes no RDA são correspondentes a algumas regras do AACR-2, mas essas regras estão organizadas numa ordem diferenciada. Pode-se observar também que na numeração das seções e subseções do RDA foram utilizados apenas algarismos numéricos, sem a utilização de letras, como no AACR-2.
Dentre as diferenças observadas pode-se verificar que o RDA apresenta definições de termo-chave que são específicos do modelo conceitual FRBR, como por exemplo as definições das entidades do primeiro grupo: obra, expressão, manifestação e item. E também buscou resgatar os princípios apresentados na Declaração de Princípios Internacionais de Catalogação de 2009.
Na comparação não foi possível limitar-se apenas aos capítulos propostas neste estudo. Houve momentos em que foi necessário consultar outros capítulos de ambos os códigos. Os outros capítulos utilizados para análise foram apenas: AACR-2 – Capítulo 12 (Recursos Contínuos), Capítulo 21 (Escolha dos Pontos de Acesso) e Apêndice C (Numerais); em ambos os códigos, AACR-2 e RDA – Apêndice A (Maiúsculas e Minúsculas) e Apêndice B (Abreviaturas).
No modelo conceitual FRBR estão presentes três grupos de Entidades, totalizando dez entidades. Para a análise foi considerado apenas o primeiro grupo (obra, expressão, manifestação e item); mais especificamente entidades: manifestação e item, pois são estas o foco na primeira seção do RDA.
Com a comparativa realizada em ambos os códigos, pode-se perceber que o capítulo 1 da seção 1 do RDA, teve como objetivo resgatar todas as regras para descrição geral de materiais facilitando a utilização dos capítulos dessa seção. Neste mesmo capítulo foi incluso a seção de “Numerais”, que está presente no Apêndice C do AACR-2.
Considerou-se os apêndices “A” de ambos os códigos são semelhantes, pois as seções e subseções são as mesmas, mudando apenas as seqüências das regras. O que se pode observar é que algumas regras do RDA não estão presentes no AACR-2.
Os exemplos utilizados nos Apêndices “A” presentes nos dois códigos são os mesmos, no entanto, em algumas regras o RDA coloca mais exemplos que o AACR-2.
Na comparação realizada nos Apêndice B, foi detectado que as regras não são todas idênticas, apenas as seções B.1, B.6, B.7, B.8, B.9, B.10 e B.11 do RDA são encontradas também no AACR-2. As outras seções e subseções de ambos são diferentes, apresentando cada um a sua definição e função.
Portanto, observa-se que o RDA recuperou algumas regras presentes no AACR-2, mas organizando as seções e subseções dentro do modelo conceitual FRBR.
Algumas seções apenas remetem ao apêndice específico, não trazendo nenhum exemplo, nem explicação sobre o termo apresentado. Também foi observado que a numeração das seções e subseções do RDA utiliza apenas números, sendo que o AACR utiliza números e letras. No Apêndice B, foram encontradas divergências, portanto apenas algumas regras são semelhantes em ambos.
Portanto o RDA, no seu capítulo 1 da seção 1, não traz aos catalogadores e usuários muitas novidades, diferenças nas descrições. Ele recupera várias regras do código AACR-2.

Conclusões

Considera-se que as comparações realizadas nesse trabalho mostraram que as diferenças encontradas visam a melhor adequação de regras de catalogação que possam ser amplamente utilizadas em ambiente digital, visto que grande parte da produção científica atual é divulgada nesse meio.
Contudo, foi realizado uma análise das regras de ambos os códigos, relacionado aos avanços em relação às necessidades advindas da evolução das tecnologias de informação e consequentemente o surgimento de novos tipos de materiais bibliográficos (digitais e eletrônicos) bem como novos modelos conceituais, a exemplo do FRBR.
Entretanto, notaram-se também algumas semelhanças que constam em algumas sessões estudadas e em exemplos.
Percebeu-se certo grau de limitação, justificada pelo fato de ter sido pesquisado somente partes do RDA em comparação ao AACR2, e não os dois códigos completos. E também a dificuldade de realizar uma comparativa mais a fundo, foi ao fato do código de catalogação RDA estar disponível na língua inglesa, e o mesmo ocorreu com os artigos e textos encontrados sobre o assunto aqui proposto e sobre o modelo FRBR.
Os resultados deste trabalho auxiliarão os profissionais e docentes, que utilizam em seu cotidiano, as ferramentas de catalogação AACR-2 e o RDA, facilitando desta forma a compreensão dos usuários para o uso de tais ferramentas. Expondo a estrutura do RDA, disponível para avaliações na internet, considerando como o novo código de catalogação, que passará a ser utilizado pelos profissionais catalogadores, oferecendo subsídio para entenderem o objetivo do RDA.
Este trabalho visou instigar outros pesquisadores a darem continuidade à comparação de ambos os códigos e verificarem quais são suas semelhanças e diferenças.

Referências

ASSUMPÇÃO, Fabrício Silva; SANTOS, Plácida Leopoldina Ventura Morim da Costa. Resource Description and Access (RDA): objetivos, características e desenvolvimento do novo padrão para descrição de recursos e acesso. 2009. Disponível em: . Acesso em: 14 mar. 2010.
BARBOSA, Alice. Príncipe. Novos rumos da catalogação. Rio de Janeiro: BNG, 1978.
JOINT STEERING COMMITTEE FOR REVISION OF AACR. Código de Catalogação Anglo-Americano. 2. ed. São Paulo: Febab, 2004.
KIORGAARD, Deirdre. Setting a new stardard resource description and access. 2006. Disponível em: . Acesso em: 29 maio. 2009
MONTEIRO, Cristiano dos Santos. Sistemas de alimentação de catálogos e base de dados. 2003. Tcc (Graduação em Biblioteconomia) – Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Marília. Disponível em: . Acesso em: 19 jun. 2010.
RDA Toolkit.  Disponível em: <http://www.rdatoolkit.org/constituencydraft/>. Acesso em: 29 set. 2010.
ROSETTO, Marcia. AACR2: apresentação. Disponível em: . Acesso em: 24 mai. 2010.