RDA: UM NOVO MODELO PARA
A CATALOGAÇÃO
Suzana Rodrigues (Biblioteconomia,
Universidade Estadual de Londrina),
Palavras-chave: Representação descritiva. Catalogação. RDA.
Resumo
Apresenta
um estudo comparativo entre os Códigos de Catalogação Anglo-American Cataloging Rules (AACR-2) e Resource Description and Access (RDA). Propõe-se uma pesquisa
exploratória de abordagem qualitativa através da análise documental das regras
do capítulo 1 da seção 1 do RDA e das regras do capítulo 1 do AACR-2. Traz um
retrospecto da história da catalogação, desde os primórdios até a
contemporaneidade. Trouxe à luz da pesquisa as similaridades estruturais que há
entre os códigos AACR2 e RDA. Verificou-se que o capítulo 1 da seção 1 do RDA
resgatou todas as regras de descrição geral do material que estão presentes no
capítulo 1 do AACR-2. O presente trabalho apresenta os resultados do trabalho
de conclusão de curso acerca do modelo Functional
Requirements for Bibliographic Records (FRBR) e criação do código RDA com
relação ao AACR-2R.
Introdução
A
catalogação é uma área da biblioteconomia que concentra todas as informações
compostas em um documento. A catalogação utiliza-se de códigos que determinam
as regras de descrição bibliográficas com padrões estabelecidos, visando a
utilização por profissionais na realização de suas atividades. Tais documentos
podem estar presentes em diversos formatos e suportes informacionais.
A catalogação proporciona maior
interação e facilidade de busca de um determinado item pela sua descrição
bibliográfica, facilitando a descrição dos materiais e a sua recuperação.
Com a evolução da tecnologia e o
aumento dos documentos em ambientes digitais e analógicos, o processo de
tratamento das informações ficaram mais complexos, visto que há uma grande
produção de informações para serem disseminadas e registradas tanto em
ambientes digitais e convencionais.
Com a realização da Conferência de
Paris, em 1961, ocorreram várias modificações nos códigos até então criados.
Para padronizar as normas de catalogação, trabalhando em conjunto, a American Library Association (ALA), a Canadian Library Association e a Library Association (Inglaterra)
criaram, em 1967, um código de catalogação, conhecido como AACR, para descrever
os materiais informacionais.
O presente estudo visa comparar as
regras constantes nos dois códigos de catalogação AACR-2R e RDA.
Especificamente nas regras do capítulo 1 do AACR-2 com as seções do capítulo 1
da seção 1 do RDA, buscando elencar as semelhanças e diferenças encontradas nas
regras dos dois códigos, através de uma pesquisa exploratória com análise
documental.
Revisão de Literatura
A
catalogação é conhecida desde os períodos remotos até os dias de hoje, contudo,
sempre houve uma evolução no seu meio de informação para satisfazer as
necessidades encontradas pelos profissionais bibliotecários de década em década
até os novos meios de automatização que surgiram e estão surgindo no mundo
digital.
Historicamente, a humanidade sempre
desenvolveu normas e padrões para orientar a catalogação de materiais de
informação, nos tempos mais atuais o AACR é amplamente utilizados por
bibliotecas e centros de informação.
Sob a responsabilidade de três
associações: a Library Association, a Canadian Library Association e a Library
of Congress, o AACR foi lançado em 1967 em sua primeira versão.
O AACR foi amplamente distribuído,
após a sua tradução para outros idiomas. E o seu objetivo é “atender ás
necessidades das bibliotecas de pesquisa em geral” (BARBOSA, 1978, p. 48).
A aplicação desse código dirige-se a
todas as atividades biblioteconômicas, bibliográficas e livrescas, ou seja,
fichas catalográficas, bibliografias, citações, listagem de livros e outros
materiais para qualquer intuito.
Para a revisão do código foi realizado
um encontro em Copenhague. Uma Comissão Executiva Conjunta se reuniu para a
revisão do Código de Catalogação Anglo Americano pelo Joint Steering Committee for the Revision of the Anglo American Cataloguing
Rules – JSCAACR (ROSETTO, 2010).
Em 1975 ocorreu uma reunião com a
Comissão de Catalogação da International
Federation of Library Associations and Institutions (IFLA), propondo uma
revisão para o AACR, resultando em 1978, na 2º edição do código de catalogação,
conhecido por AACR-2. Com a criação desse novo código foi proposto também a
criação do General Internacional Standard
Bibliographic Description ISBD(G) (MONTEIRO, 2003).
A edição brasileira foi publicada após
vários contatos, a Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários (FEBAB)
com a American Library Association,
Library Association e Canadian
Library Association. Essas instituições assinaram um acordo em 1980, que
autorizava a Federação na publicação, dividida em dois volumes: volume 1, em
1983 e o volume 2, em 1985.
O AACR-2 é o código mais utilizado
pelas escolas de biblioteconomia e bibliotecários até os dias de hoje, contendo
a nova forma de descrição bibliográfica, numa escala internacional. Esse código
está dividido em duas partes, a parte I que se refere a Descrição e a parte II
sobre Pontos de Acesso, Títulos Uniformes, Remissivas. Atualmente, o AACR-2
está estruturado pelas oito áreas de descrição e pontuação utilizadas pelo
ISBD.
O
primeiro projeto do AACR-3, sendo apenas da Parte 1 sobre Descrição foi
disponibilizado para comentários em dezembro de 2004. O objetivo é fazer uma
mudança radical para o conteúdo, estrutura e estilo das regras. Para a
preparação do AACR-3 foi realizado apenas uma revisão do código até hoje utilizado,
o AACR-2 (KIORGAARD, 2006).
Com o
avanço tecnológico e das necessidades de se catalogar e descrever novos
formatos de informação em ambientes digitais, houve necessidade de criar um
novo código de catalogação. Ao invés de atualizarem o código AACR-2 para
AACR-3, tendo como base para a criação do novo código o modelo FRBR. A seguir
discorre-se sobre histórico desse novo código e suas principais atribuições.
A história do RDA tem início quando a
JSC, em 2001, em suas reuniões são discutidas as propostas de mudanças na
percepção de que o FRBR pode trazer de benefícios para o código AACR-2.
Os estudos relacionados ao RDA ainda
estão em andamento, primeiramente o RDA será disponibilizado on-line, como um banco de dados
incorporando as características e funcionalidades do acesso on-line:
personalização e fácil atualização. E logo em seguida, versão impressa e CD-ROM
(ASSUMPÇÃO, 2009).
Este trabalho tem como objetivo
apresentar mostrar através de uma pesquisa exploratória comparativa, as
semelhanças ou divergências encontradas a partir da análise do conteúdo do
capítulo 1 (Diretrizes Gerais para Registro de Atributos de Manifestação e
Item) da seção 1 (Registro de Atributos de Manifestação e Item) do RDA com o
conteúdo dos capítulos 1 (Regras Gerais de Descrição) do AACR-2. Buscou-se
mostrar também a organização das áreas de ambos os códigos.
Resultados e Discussão
A seção 1 (Capítulo 1 - General Guidelines On Recording Attributes of Manifestations and Items) apresenta as regras gerais para registro de atributos de manifestação e item, portanto é o que mais se aproxima do AACR-2, que traz as regras de descrição do material bibliográfico propriamente dito. Já obra e expressão ficam mais no âmbito intelectual.
No embasamento teórico, foram
apresentados nesta pesquisa: a história da catalogação, desde os primórdios até
a criação dos códigos de catalogação de maior relevância; de Cutter ao código
de catalogação RDA; o modelo conceitual FRBR; e definições, objetivos e funções
de catálogo e catalogação definidos por alguns autores.
O RDA é o novo código de catalogação
criado pelo modelo FRBR para substituir o AACR-2. Criado em 2008, e publicado
em 2010, foi analisado por bibliotecas internacionais. O RDA é o novo padrão
para descrição de recursos e acesso projetado para o mundo digital.
A comparação teve como objetivo
analisar a descrição de cada seção e subseção na sequência que aparecem no RDA.
Segundo a realização da comparação aqui proposta, observou-se muitas
semelhanças e poucas diferenças entre as seções e subseções comparadas
(capítulos 1 da seção 1 do RDA com os capítulos 1 do AACR-2).
As semelhanças encontradas entre os
códigos referem-se ao resgate das regras gerais de descrição que compõem o
código de catalogação AACR-2, não apenas presentes nos capítulo 1, mas
presentes também em outros capítulos do código. Ao contrário do AACR-2, que
está dividido em capítulos para cada tipo de material bibliográfico, o RDA
apresenta as regras para todos os tipos de materiais.
E também foram observados que os
títulos das seções e subseções presentes no RDA são correspondentes a algumas
regras do AACR-2, mas essas regras estão organizadas numa ordem diferenciada.
Pode-se observar também que na numeração das seções e subseções do RDA foram
utilizados apenas algarismos numéricos, sem a utilização de letras, como no
AACR-2.
Dentre as diferenças observadas
pode-se verificar que o RDA apresenta definições de termo-chave que são
específicos do modelo conceitual FRBR, como por exemplo as definições das
entidades do primeiro grupo: obra, expressão, manifestação e item. E também
buscou resgatar os princípios apresentados na Declaração de Princípios
Internacionais de Catalogação de 2009.
Na comparação não foi possível
limitar-se apenas aos capítulos propostas neste estudo. Houve momentos em que
foi necessário consultar outros capítulos de ambos os códigos. Os outros
capítulos utilizados para análise foram apenas: AACR-2 – Capítulo 12 (Recursos
Contínuos), Capítulo 21 (Escolha dos Pontos de Acesso) e Apêndice C (Numerais);
em ambos os códigos, AACR-2 e RDA – Apêndice A (Maiúsculas e Minúsculas) e
Apêndice B (Abreviaturas).
No modelo conceitual FRBR estão
presentes três grupos de Entidades, totalizando dez entidades. Para a análise
foi considerado apenas o primeiro grupo (obra, expressão, manifestação e item);
mais especificamente entidades: manifestação e item, pois são estas o foco na
primeira seção do RDA.
Com a comparativa realizada em ambos
os códigos, pode-se perceber que o capítulo 1 da seção 1 do RDA, teve como
objetivo resgatar todas as regras para descrição geral de materiais facilitando
a utilização dos capítulos dessa seção. Neste mesmo capítulo foi incluso a
seção de “Numerais”, que está presente no Apêndice C do AACR-2.
Considerou-se os apêndices “A” de
ambos os códigos são semelhantes, pois as seções e subseções são as mesmas,
mudando apenas as seqüências das regras. O que se pode observar é que algumas
regras do RDA não estão presentes no AACR-2.
Os exemplos utilizados nos Apêndices
“A” presentes nos dois códigos são os mesmos, no entanto, em algumas regras o
RDA coloca mais exemplos que o AACR-2.
Na comparação realizada nos Apêndice
B, foi detectado que as regras não são todas idênticas, apenas as seções B.1,
B.6, B.7, B.8, B.9, B.10 e B.11 do RDA são encontradas também no AACR-2. As
outras seções e subseções de ambos são diferentes, apresentando cada um a sua
definição e função.
Portanto, observa-se que o RDA
recuperou algumas regras presentes no AACR-2, mas organizando as seções e
subseções dentro do modelo conceitual FRBR.
Algumas seções apenas remetem ao
apêndice específico, não trazendo nenhum exemplo, nem explicação sobre o termo
apresentado. Também foi observado que a numeração das seções e subseções do RDA
utiliza apenas números, sendo que o AACR utiliza números e letras. No Apêndice
B, foram encontradas divergências, portanto apenas algumas regras são
semelhantes em ambos.
Portanto o RDA, no seu capítulo 1 da
seção 1, não traz aos catalogadores e usuários muitas novidades, diferenças nas
descrições. Ele recupera várias regras do código AACR-2.
Conclusões
Considera-se que as comparações realizadas nesse trabalho mostraram que as diferenças encontradas visam a melhor adequação de regras de catalogação que possam ser amplamente utilizadas em ambiente digital, visto que grande parte da produção científica atual é divulgada nesse meio.
Contudo, foi realizado uma análise das
regras de ambos os códigos, relacionado aos avanços em relação às necessidades
advindas da evolução das tecnologias de informação e consequentemente o
surgimento de novos tipos de materiais bibliográficos (digitais e eletrônicos)
bem como novos modelos conceituais, a exemplo do FRBR.
Entretanto, notaram-se também algumas
semelhanças que constam em algumas sessões estudadas e em exemplos.
Percebeu-se certo grau de limitação,
justificada pelo fato de ter sido pesquisado somente partes do RDA em
comparação ao AACR2, e não os dois códigos completos. E também a dificuldade de
realizar uma comparativa mais a fundo, foi ao fato do código de catalogação RDA
estar disponível na língua inglesa, e o mesmo ocorreu com os artigos e textos
encontrados sobre o assunto aqui proposto e sobre o modelo FRBR.
Os resultados deste trabalho
auxiliarão os profissionais e docentes, que utilizam em seu cotidiano, as
ferramentas de catalogação AACR-2 e o RDA, facilitando desta forma a
compreensão dos usuários para o uso de tais ferramentas. Expondo a estrutura do
RDA, disponível para avaliações na internet, considerando como o novo código de
catalogação, que passará a ser utilizado pelos profissionais catalogadores,
oferecendo subsídio para entenderem o objetivo do RDA.
Este trabalho visou instigar outros
pesquisadores a darem continuidade à comparação de ambos os códigos e
verificarem quais são suas semelhanças e diferenças.
Referências
ASSUMPÇÃO, Fabrício Silva; SANTOS,
Plácida Leopoldina Ventura Morim da Costa. Resource Description and Access
(RDA): objetivos, características e desenvolvimento do novo padrão para
descrição de recursos e acesso. 2009. Disponível em: .
Acesso em: 14 mar. 2010.
BARBOSA, Alice. Príncipe. Novos
rumos da catalogação. Rio de Janeiro: BNG, 1978.
JOINT STEERING
COMMITTEE FOR REVISION OF AACR. Código de Catalogação Anglo-Americano. 2. ed.
São Paulo: Febab, 2004.
KIORGAARD,
Deirdre. Setting a new stardard resource
description and access. 2006.
Disponível em: . Acesso em: 29 maio. 2009
MONTEIRO, Cristiano dos Santos. Sistemas de alimentação de catálogos e base
de dados. 2003. Tcc (Graduação em Biblioteconomia) – Faculdade de Filosofia
e Ciências, Universidade Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Marília.
Disponível em: . Acesso em: 19 jun. 2010.
RDA Toolkit. Disponível em: <http://www.rdatoolkit.org/constituencydraft/>.
Acesso em: 29 set. 2010.
ROSETTO,
Marcia. AACR2: apresentação.
Disponível em: . Acesso em: 24 mai. 2010.